Sistinas
Mandrágora
#12

Mandrágora

Todos acreditavam ver nesta árvore a forma humana - quer de homem, quer de mulher - e a primeira era branca e a segunda era negra. Segundo outra lenda, a árvore do paraíso que tentou Adão e Eva era uma Mandrágora. Em alguns países europeus, a planta é considerada uma feiticeira, ou uma fada.

Jerad estava suando frio. Estava quase no fim. Jogou a seringa de lado, segurando o braço após a aplicação. Não era mais o suficiente. Nem a flor azul-esbranquiçada que mastigava, distraidamente...

Pegou o pequeno papel riscado da mesa e leu em voz alta o número. Um celular, dentre tantos outros. Ligou. Uma voz feminina carregada de sensualidade atendeu:

-Alô, você está procurando os serviços da Vênus?

-Sim. - respondeu Jerad, ainda suando muito.

-Serviço completo?

-Quero saber tudo. Sua aparência. Como você é na cama? O que faz com gosto e o que não faz? - disparou Jerad, sem nem dar tempo à mulher do outro lado responder. - Não sou um cliente comum. Quero saber tudo sobre seu sexo. Inclusive como se depila, tudo!

A moça pigarreou no telefone, surpresa com o tipo de informação que ele pedia, mas colaborou:

-Tenho cabelos e olhos pretos. Sou mignon, um metro e sessenta de altura, bem torneada, sou branquinha, do tipo que se você aperta fica vermelhinha, seios sem silicone, duros, com bicos muito grandes e rosados. Coxas grossas, torneadas, pés lindos e adorados, barriga definida, bumbum macio e ligeiramente grande e minha menininha é totalmente depilada, bem carnudinha por fora e apertadinha e quente por dentro.

-E como se comporta na cama? Não quero que diga que faz tudo que o cliente pedir. Diga o que você especificamente gosta de fazer.

A mulher pensou um minuto na estranheza da conversa. Seria mais um trote?

-Bem, sou muito natural e realmente liberal. Sem tabu algum, sou uma amante do sexo. Principalmente do bem-feito.

-Você engole?

-Sim, sem frescura, tudo o que você colocar em minha boca carnuda, querido. Tenho lábios bem grossos.

-E quanto ao sexo anal?

-Gosto muito, sou praticante. Algumas colegas minhas não praticam com dotados, mas eu não ligo para essas coisas. Gosto quando me preenchem toda. - isso sim era conversa fiada, ela dizia mais pra ganhar os clientes. Claro que gostava um pouco de sexo anal, mas não dava pra ser com todo mundo. Só quando estava muito excitada, por exemplo.

-Não sente dor?

-Essa dor gosto de sentir. Depois vira prazer. Olha cara, vou lhe dizer logo meu preço para agilizarmos, que acha? - ela desabafou, impaciente.

-Claro. Eu pago por você, Vênus. Você molha fácil?

-Trezentas pratas. Por duas horas, em local à sua escolha. Que aliás, também corre por sua conta, ok? Sim, molho fácil, só de falar com você já estou molhadinha. - e isso também não era verdade, mas ela não podia deixar de dizer.

Jerad não estava mais ouvindo. Sorria pelo canto da boca, cinicamente.

-Quando te encontro? - ele perguntou, pegando uma caneta.

-Você paga, você manda. Em sua casa, ou motel?

-Minha casa.

-Então aumente o valor pra quatrocentas pratas.

-Porquê?

-À domicílio é mais caro. Mas pra compensar fico mais meia hora com você. Ok?

-Você usa muita saliva quando chupa e mama?

-Sim, vou adorar deixar seu cacete bem molhado. Desliza mais fácil assim!

-Você é perfeita... - se limitou dizer Jerad antes de marcar o horário e desligar o fone.

Entardecia em Sistinas quando Jerad atendeu a porta. Uma mulher muito sensual apareceu, de olhar penetrante, vestida para matar. Ela era até melhor que a descrição dada por telefone!

-Vênus. Você me contratou. Estou atrasada?

-Não, está na hora propícia. Vamos entrar.

Levou a garota de programa para o quarto - que para a ocasião estava iluminado apenas por velas, além de um incensário queimando aromas de ervas. A garota até se assustou com a produção.

-Vai ser uma trepada incrível.

Jerad sorriu, e fechou a porta atrás dela. Olhou a moça que se atirava na cama, desinibida. Ela era mesmo apaixonada pelo que fazia, abraçava a profissão.

-Eu esqueci de perguntar, mas você curte... acessórios, Vênus?

-Bem, sim. Mas confesso que fico chateada quando um homem enfia um vibrador em mim em vez de meter logo o cacete. Me sinto meio indigna, sabe?

-Sei, sei. Olha, não tenho pau de borracha por aqui. São apetrechos exóticos, os meus... - o jeito de falar dele era excessivamente pausado, parecia meio drogado.

-Tá legal. - ela desconversou rapidamente, suada. Tirou a roupa provocante que vestia, pois o quarto estava sufocante.

-Já trepou numa estufa? - perguntou Jerad, tirando a própria camisa.

-Não. Nem em avião. Mas no resto, já fiz de tudo.

-Depois treparemos na minha estufa, você vai adorar.

-Mais uma no meu currículo. Legal! Agora vem cá, tira essa coisa para fora, que eu já tô com água na boca.

Jerad ficou em pé em frente a gata ajoelhada na cama. Ela abriu a calça e tirou seu membro para fora com uma maestria própria da profissão. Levou à boca, e o passou levemente nos lábios.

-Olha, pagamento adiantado. Senão te deixo nesse estado e vou embora. O que seria um desperdício, já que ele está bem no ponto... - sorriu.

Jerad atirou quatro notas grandes na cama, e a puxou pelos cabelos. Penetrou tudo na boca quente, úmida e macia de Vênus.

-Hmpffff, devagar gostoso.

O homem sentia os lábios dela - realmente grossos, carnudos - roçando por toda a extensão de seu membro.

-Quero que cuspa nele. Molha.

Vênus soltou uma grande quantidade de saliva, lubrificou e engoliu tudo novamente. Era um membro de tamanho normal. Ela o levou até a garganta, sentindo a pulsação do homem dentro da sua boca, totalmente preenchida. Deu uma mexida com a língua, que provocou um leve tremor nele.

-Ohhhhhhhhh, assim eu gozo safadinha...

Vênus tirou da boca, olhou para ele e caprichou na expressão do rosto.

-Porque não goza pra me ver engolir, meu macho? - atiçou. Um truque simples que usava com os clientes, pois quanto mais ele gozasse agora, menos fogo e disposição teria na hora da trepada. Assim ela não se desgastava tanto.

Jerad segurou novamente a cabeça dela, puxando-a contra seu membro. Enfiou com força até exagerada e começou um vai e vem mais forte, mais rápido, até...

-Ohhmmmmmm quer gozar agora?

-Quando eu soltar tudo, não engula. Quero que cuspa aqui...

A mulher não olhou para cima. Estava concentrada na carne dura que preenchia sua boca. Depois cuspiria com prazer, onde ele quisesse, afinal detestava o gosto daquilo. Ele metia com mais força, mais vontade, ritmadamente. Demorou um pouco mais, e segurando forte pelos cabelos dela, enfim gozou.

Vênus, pega de surpresa, engasgou e quase engoliu a porra toda. Sentiu sua boca inundada de esperma, misturada na saliva farta. Então Jerad lhe oferece a taça, cristalina, que parecia ser própria para a ocasião. Cuspiu dentro dela.

-Muito bem, você é demais. Assim que gosto. Escolhi bem. - disse Jerad, enquanto a mulher massageava o saco dele, querendo excitá-lo mais rápido.

-Deita aqui. Agora quero sentir você também se derreter na minha boca.

A mulher deitou-se, tirando a calcinha. O último obstáculo que quando caiu revelou uma depilação cuidadosa que a deixava exposta. Jerad percebeu que já escorria um líquido, em quantidade considerável, e ele nem tinha encostado a boca nela ainda.

-Sexo oral me excita. Dar e receber. - ela falou.

Jogou as pernas de Vênus para cima e para os lados, abrindo e deixando à mostra seu objeto de desejo. Começou a lamber levemente os lábios, que se avermelharam na hora. Passava a língua em tudo, segurando firmemente as coxas dela afastadas. Era uma visão e tanto.

-Ohhhhhhh chupa! Capricha, que tenho muito mel para você, vai...

Jerad mordia, lambia, e chupava. Enfiava a língua dentro dela, e sorvia do líquido que era mesmo muito farto. Ela tinha um gosto bastante agradável. Ele enfiava dedos e brincava nela, enquanto lambia o clitóris duro. Puxava os lábios vaginais com os dentes. Depois revezava lambidas na virilha e mordidas nas coxas.

Quando começou a massagear o outro buraquinho dela, Vênus se contorceu e uma grande quantidade de líquido molhou a boca de seu amante. Ela segurava Jerad pelos cabelos, sem ver que vez ou outra ele passava a borda da taça nela, colhendo um pouco do líquido que escorria.

Gemendo e se contorcendo, Vênus apertou as coxas, prendendo a cabeça dele no meio das pernas.

-Pare. Pare! Ohhhh, não, chega... Não assim... Me fode logo, põe, mete, me rasga!

Jerad segurava a excitação, enquanto ainda colhia as secreções da mulher. Estavam queimando, tesão explodindo. Vênus pensaria que estava transando com seu namorado, não fossem as notas caídas ao lado dela nos lençóis. Se entregava de maneira completa, era mesmo uma experiência única.

Molhados de suor, Jerad atacava os seios, mordendo, parecia querer que coubessem inteiros na sua boca, e então chupava os mamilos duros. Apertava massageando um peito, enquanto trabalhava no outro. Não demorou muito, e Vênus sentiu-se novamente encharcada entre as coxas. Segurava o membro dele, incitando-o, pois queria ser penetrada logo. Não dava mais para aguentar! Esquecia que era um serviço, só queria ser invadida logo por aquele homem misterioso.

Jerad a colocou de quatro e, no espaço de tempo de um gemido dela, a penetrou com toda sua força, puxando-a freneticamente pelos cabelos. Estapeava aquela bunda perfeita que rebolava de encontro à ele.

O calor da trepada aquecia ainda mais o quarto, já abafado por velas, e Vênus literalmente derretia em suor. Jerad continuava fodendo com força, os seios dela balançando, e o cheiro de sexo enfim tomou conta do ambiente, misturado às ervas. O barulho das bombadas fortes do membro duro nas carnes úmidas dava o ritmo.

-Ohhhhhhh, mete tudo filho da puta! Fode, vai... Me come! Está me deixando maluca!

Vênus pingava nos lençóis molhados. Jerad se excitava vendo a mulher de quatro, com a bunda toda suadinha, misturando com os líquidos dos dois enquanto metia. Diminuiu o ritmo, antes que gozasse.

-Não para! Mete mais, mete tudo! - ela protestou.

Jerad passou a mão entre as nádegas dela, colhendo muito suor. Esfregou a palma da mão na borda da taça, e assim mais uma secreção se misturou.

-Vai gostoso! Continua... Enfia mais, enfia!

Jerad aguentou um pouco mais. Não queria se entregar ao orgasmo, mas ele acabou chegando para os dois ao mesmo tempo. Ele apertou a cintura dela enquanto a inundava; Vênus gritou quando o sentiu aumentar de diâmetro e despejar porra dentro dela, e então desabou na cama, exausta.

-Nossa, Você é gostoso demais. Deveria trabalhar comigo. Tem muita mulher por aí que paga bem para ter um amante fogoso assim!

Jerad ignorou o comentário, levantando da cama. "Vamos à estufa?"

A mulher, ainda com as pernas bambas, aceitou o convite que seria fatal. Segurou a mão dele, que a conduziu.

A estufa era agradável, contendo várias plantas exóticas e raras. Vênus estava encantada.

-Nossa, que lindas! Você é algum estudioso?

-Digamos que eu quero criar a flor perfeita. Pra mim, claro.

A mulher sorriu. Enquanto olhava atentamente para cada planta, viu no fundo da estufa uma árvore vistosa, que ao longe dava impressão de ter formas humanas. Quando ia perguntar que árvore era aquela, Jerad lhe ofereceu uma flor. Azulada. Estranha.

-Mastigue. É boa.

Vênus sentiu um leve gosto amargo na boca quando mastigou. E a árvore ao fundo lhe pareceu mais humana ainda!

-Olhe para mim?

Vênus olhou para trás, e então Jerad bateu uma foto. A Polaroid automaticamente cospe a imagem: Vênus aparece com a florzinha ainda nos lábios. Olhos injetados e surpresos.

-Eu não gosto de fotos. Rasgue. Não quero... - disse, já meio afetada pela flor.

-Ah, não se preocupe. Nunca mostro minhas fotos para ninguém. Além de que paguei seu preço, não paguei? Então relaxe! Sinta a flor entrando em seu organismo.

Vênus sentia mesmo diferenças. Pensamentos mórbidos, alucinados, luxúria, um tesão incontrolável dominando seus sentidos. Nem protestou quando foi beijada na boca, uma coisa que ela não permitia. Ele a puxou pela mão, levando-a para o fundo da estufa.

-Apoie-se no tronco. - ela escutou, mas nem saberia dizer de onde a voz de comando partiu.

Sem saber direito o que fazia, Vênus segurou o tronco da árvore que estava na sua frente. Empinou o quadril levemente, um convite ao prazer. Sorriu maliciosamente e afastou as nádegas, chamando por Jerad. Ele estava colocando a foto num painel na parede.

-Por que perguntou se transo sexo anal? Não quer me pegar por trás agora, gostoso?

O homem aproximou-se, também com uma folha nos lábios. Na mão carregava a taça, cheia de secreções. Deixou com cuidado a taça de lado, e se encostou no bumbum macio de Vênus. Pegou com força, abrindo.

-Ai, não vai lubrificar antes?

Jerad nem se deu ao trabalho de responder, e enterrou - de maneira lenta mas vigorosa - o membro nela. Vênus gemeu no começo.

-Ahhh, eu adoro quando entra. Devagar, depois mete com gosto!

A folhagem se mexia de acordo com os movimentos do quadril da mulher. Ela agora rebolava com com muita vontade, sentindo Jerad quase todo dentro dela.

-Coloca vinho nessa taça que bebo tudinho. Bebo enquanto você me enraba! Hummm, você é grosso, me esfolando, mas eu gosto... Mete com mais força!

Jerad forçou mais.

-Ohhhh, já entrou tudo? Tá ardendo mas quero mais, quero todo! Mexe, metendo. Que delícia...

O gosto da flor na boca de Vênus parecia estimulá-la ainda mais. Alguma planta afrodisíaca, decerto. Estava vendo coisas. Jerad comia sua bundinha sem lubrificação, e ela não sentia quase nada. Estava em êxtase. Delirava de prazer. Já tinha gozado quando entrou tudo, agora estava para gozar de novo. Olhou direito para o tronco onde se apoiava.

Quase via uma forma feminina. O tronco não era grosseiro. Era liso e quase macio. Delicado seria a palavra. E se parecia muito com uma mulher de pé com as pernas juntas.

Ouvindo os gemidos e xingamentos de Jerad, Vênus perdeu a concentração. A árvore voltou a ser árvore. Sentindo as bombadas do homem atrás dela e o prazer que a invadia, fechou os olhos. Apenas ouvia "rebole mais" agora.

-Ohhh, você é só mais uma.... Mais uma puta que aprovo. Vai ser parte dela... te paguei, mais do que para sexo, sabia?

Sentidos aflorados, Vênus se mexia cadenciadamente, quando passou a ouvir uma voz diferente. Suave, murmurante, falando baixinho... "Sangre".

A moça estava gozando pela terceira vez naquela posição, e percebeu novamente uma silhueta feminina na sua frente.

"Deus, estou maluca, ou ela tem olhos?"

Tinha. Negros, com um brilho de inteligência. Mas Vênus não tinha mais controle sobre o próprio corpo. Na verdade, apesar de estar sendo duramente enrabada nos últimos minutos, ela não sentia nada além de prazer. Aliás, desde que mastigou a flor...

-Você me drogou... - murmurou debilmente.

-Sim, sim! Ohhhhh, e você será parte dela!

Pela primeira vez ele se permitiu gritar enquanto gozava. Segurou Vênus com tanta força pela cintura nesse momento que marcas vermelhas profundas apareceram nela.

-Quero ir embora...

Olhou para a árvore onde se apoiava, quase enxergando o rosto da criatura meio tronco, meio mulher, curvado sobre ela. Caiu no chão. Seus olhos giravam, buscando na estufa alguma coisa com que se proteger de um perigo que sentia. Viu então a coleção de fotos penduradas no mural. Várias mulheres, de todas as raças e biotipos: louras, morenas, negras, orientais, altas e outras baixinhas como ela. Eram jovens em sua maioria, mas também se via algumas maduras.

A única coisa em comum entre todas elas era a flor azul-esbranquiçada na boca, e o olhar enlouquecido pelo tesão!

-Agora, minha cara, preciso te sangrar. - Jerad pegou a taça, até então esquecida no chão, com a mistura de suor, saliva e suco vaginal de Vênus. Faltava apenas o último e precioso ingrediente que era seu sangue.

A moça viu quando Jerad abraçou o tronco, e estranhamente a criatura se aninhou aos braços dele. Agora enxergava um pouco mais a ilusão. A árvore tinha seios, barriga, e um rosto sereno e cruel ao mesmo tempo. Suas raízes fixas no chão lembravam pernas. E os olhos? Era um ser vivo, até algo parecido com cabelos ela tinha!

Era uma árvore em forma de mulher, sendo cultivada por Jerad!

-Ela é perfeita. Vê as fotos? Cada uma delas deu algo à minha querida. De você Vênus, retiro a sensualidade, esse tesão e apetite com que você se entrega ao sexo. Transamos em cima do tronco e ela adorou a experiência, sabia? Você estava aqui, a carne, mas eu estava trepando era com minha mandrágora!

A moça lutava para ficar com os olhos abertos, mas não conseguia. A droga era muito forte, alucinógena, ainda mais agora. Estava totalmente entregue, inofensiva. Só podia ouvir o homem, mas, quando se concentrava, ouvia o sussurro dela também. Uma voz assustadora que pedia por sangue!

-Agora querida, vou sangrar você. Obviamente, não posso te deixar viva. Ah, sinto muito. É a lei. Minha lei. Não entenderia se fosse de outra forma. "Sangue é vida", disse alguém, alguma vez, em algum lugar.

Dizendo isso, fez um corte profundo no seio de Vênus. A garota, totalmente intoxicada pelo alucinógeno, nem reagia enquanto sua vida escorria para a taça. Quando encheu, ele sorriu maliciosamente e se dirigiu à árvore.

Como quem rega uma planta, Jerad soltou o conteúdo da taça por todo o tronco da criatura, que assumia cada vez mais a forma humana. Se era ainda essencialmente uma árvore no começo, agora era uma mulher completa. Mexia-se, inquieta, quando ganhou o sopro da vida que veio do último gole do sangue de Vênus.

A folhagem caiu. Os seios enrijeceram, ela mexeu os olhos, uma grotesca imitação feminina. Abriu a boca, mas ainda não conseguia falar. Os lábios verdes se entortaram numa imitação de sorriso, então Jerad a abraçou forte. O corpo tornou-se enfim macio, suave ao toque.

Vênus estava à beira do desmaio. O último de sua vida. Mas assistiu a tudo.

Um tesão incontrolável atingiu os dois, e Jerad agarrou a criatura recém-nascida. Esta, por sua vez, deu em seu mestre um longo beijo, e logo depois deitaram-se no chão para transar.

A moça segurava o seio na tentativa de estancar o sangue, que teimava em escorrer. O corte fora profundo, quase mutilou por completo sua mama. Ela lutava para se manter viva e acordada. Acompanhou chocada quando Jerad penetrou fundo a mandrágora, que em todos os sentidos agora era uma mulher.

Os dois gritavam muito, gemendo e trocando carícias. A lubrificação da criatura era algo esverdeado, como seiva talvez. E tinha o cheiro. Nauseante, ervas misturadas. Mas tinha também sexo, sangue, suor, saliva, tudo junto naquela mistura macabra.

Criador e criatura se beijavam com tanta volúpia, com tanto gosto, que pareciam amantes de vidas passadas. Vênus caiu de vez no chão, de onde nunca mais se levantaria. Levou para o túmulo as últimas imagens que seu olhar registrou.

A criatura chegou ao orgasmo juntamente com Jerad. Tremeram quase convulsivamente, e se soltaram enfim. "Você é perfeita!" A mandrágora, sem calor corpóreo, apenas tinha em si o suor vindo de Jerad.

Após alguns minutos, ele percebeu o cadáver de sua última vítima. Então levantou-se, apressado. Segurou sua criatura pelas mãos, e a ergueu também. A planta seguia em tudo seu mestre, fazendo os preparativos para a partida. Apenas queria estar ao lado do homem que tinha lhe criado.

-Vamos sair desta casa. Ela serviu aos nossos propósitos. Hora de partir, minha querida. Mas antes, vamos queimar este lugar de morte e vida. Não podemos deixar rastros. - dizia isso enquanto encharcava o corpo de Vênus de gasolina.

A criatura não falava. Ainda não sabia se pronunciar, era guiada puramente por instintos. Quando viu seu mestre atear fogo à estufa, gritou e correu, assustada. Saíram minutos depois, sem olhar para trás, abandonando a casa em que Jerad morou nas últimas semanas, coletando vítimas para criar sua mandrágora.

Os bombeiros enfim chegaram ao incêndio e entraram depressa, pois todos que estavam nas redondezas ouviram gritos dentro da casa - gritos tão terríveis que misteriosamente mataram todos os cães das redondezas! Mas, para a surpresa geral, não encontraram sobreviventes. Apenas o corpo queimado de Vênus, que alguns pensaram ser a origem dos gritos. Mas como, se parecia já estar morta antes do fogo começar?

Então, numa parte isolada da estufa, encontraram as "coisas", como tentou relatar um dos bombeiros: "Parecia um jardim, com umas árvores muito esquisitas no meio".

-Esquisitas como?

-O cara devia ser muito bom nisso. Os troncos das árvores pareciam, ou eram, corpos femininos. Mulheres plantadas no meio de um jardim grotesco. Acho que eram três...

-E como elas estão agora?

-Totalmente queimadas. Além disso, foram todas borrifadas com herbicida, desfolhante, algo agente químico, sei lá... E tem gente quase jurando que foram elas que gritaram!

-E essa coisa dos cachorros que estão comentando...?

-Que coisa de louco, né? Morreram todos ao mesmo tempo. Será que ouviram algo que nós não...?

Enquanto os bombeiros discutiam, Jerad e sua "árvore esquisita" estavam do outro lado da cidade, no carro dele, em alta velocidade. Iam para muito longe, e tudo seria perfeito.

A mandrágora olhava para o vazio, quando enfim conseguiu murmurar sua primeira palavra:

-Acorde.

E, na estufa incendiada, uma única das criaturas abriu os olhos negros como a noite, mas que pareciam brilhar com diabólica inteligência...


Comentários do autor

Esse conto "Mandrágora" remete à lenda de Pigmalião, que esculpiu a mulher perfeita em marfim, tão perfeita que se apaixonou e pediu à deusa Vênus que a transformasse numa mulher de carne e osso. A deusa atendeu o pedido, e a estátua tornou-se sua esposa Galatéia. Essa foi minha inspiração.

Foi publicado originalmente em 16.03.02, com algumas correções menores em 15.08.04. Reescrito em 2012 para o relançamento do site.

Esse conto tem uma continuação chamada Raízes de sangue.


Espalhe a palavra