Sistinas
Luxúria Encarnada
#32

Luxúria Encarnada

Você é o dançarino nas trevas
Você é o filho da luz
Você é pecador todo o tempo
Você é o santo com asas tão brancas
Você é a figura distante na noite

Dancer in the Dark - For my pain

Prólogo

O passado, relembrava o padre:

-Cristo, por sua natureza divina e por seu sacrifício vitorioso na cruz, tem todo poder e autoridade para dominar os demônios e espíritos malignos. Ele conferiu esta autoridade à sua Igreja, e eu, na fé que tenho em Cristo, compartilho dela. - ele disse.

A possuída ria histericamente. Um filete de saliva escorria pelo canto de sua boca. Gemeu algo que só o padre ouviu. Ela estava amarrada na cama com grossas correias de couro compradas por sua amada mamãe. Essa senhora sofria atrás do padre, segurando com força a mão de sua outra filha. Um crucifixo escorregava entre seus dedos suados, tensos. Ao seu lado estava o filho mais velho.

-Saiam todos e tranquem a porta! Agora! - gritou o padre.

A voz de comando dele assustou a família aflita. A mãe, que parecia letárgica, deu um pulo de surpresa e arregalou os olhos. Puxando os dois filhos, ela se retirou do aposento.

-Não abram, nem entrem aqui até eu sair!

-Sim senhor!

-Não importa o que ouçam aqui dentro, não abram essa porta!

-Sim, sim, salve minha Constance!

Então o padre voltou-se para a menina na cama. Olhou, examinando-a demoradamente. Esfregou água benta em seus tornozelos inchados pelas correias, fez o poderoso sinal da cruz em cima do seu peito e novamente se voltou à água benta. Massageou os pulsos dela, também inchados, enquanto sussurrava uma oração para acalmá-la.

Acalmar aquela coisa que se debatia vorazmente nas correias e tentava em vão erguer seu corpo acima dos lençóis.

-Ó Deus Todo-poderoso e Pai misericordioso, confessamos diante de ti o pecado de nossas vidas e a debilidade de nossa natureza. Não somos dignos de ministrar em teu Santo Nome, porém pedimos teu perdão e o poder de fazer tua vontade porque tu nos chamaste e nos limpaste pelo sangue de teu amado Filho Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém. - ele orava, enquanto ouvia a possessa respondendo blasfêmias de volta.

As pernas de Constance estavam afastadas, e entre elas escorriam secreções, era de onde saía aquele cheiro... "Ó eterno Deus, criador e Salvador, concede tua ajuda e proteção divina a nós, teus servos, ao ministrar em seu Nome e com a autoridade de teu filho Jesus Cristo."

Ela não parava de pedir, de falar obscenidades, gritar palavrões e blasfêmias.

-Olha com compaixão para essa pessoa aprisionada por Satanás, o antigo mentiroso.

O santo padre olhou para Constance nesse momento, que lambia o lábio superior. Depois ela serpenteou a língua demoradamente pra fora da boca, como a cobra inimiga da humanidade.

-Mostra teu poder (e nesse momento mostrou-lhe o crucifixo) para libertá-la e abençoá-la para a glória de teu Santo Nome, por Jesus Cristo o Senhor! - gritou, e então encarou firmemente a menina, forçando-a repetir "Amém" com ele.

"Um santo homem. Esse Amém tão enérgico expulsará todo e qualquer demônio" - teria dito uma vizinha fofoqueira que aguardava do lado de fora do quarto, junto com a mãe da possuída. E, lá dentro, o padre elevava a voz citando as escrituras. Passagens bíblicas que mostravam o poder de Jesus contra o maligno. Narrou em tom bem ritmado - decorado - quando Jesus é reconhecido pelo espírito imundo, e quando ele expulsa uma legião de demônios. Ao fundo a menina gemia debilmente, claramente intimidada com o poder da bíblia em seu corpo.

Vendo que Constance já estava quase entregando os pontos, o padre rezou um fervoroso Pai-nosso, e então gritou aos familiares que esperavam do lado de fora:

-Oremos! Salva, ó Senhor, a tua serva!

-Que confia em ti, ó Deus. - responderam todos atrás da porta, de maneira mecânica.

-Que encontra em ti uma torre forte. - o padre continuou firme, com as veias saltadas.

-Na presença do inimigo. - eles gritaram.

-Que o inimigo não tenha poder sobre ela. - ele continuou com grande esforço.

-Que ele seja impotente para causar dano à ela.

-Escuta nossa oração. - o padre suava, seus lábios estavam secos e gelados.

-E chegue a ti nosso clamor. - clamaram lá fora.

-O Senhor seja convosco. - enfim encerrou o padre, com alívio.

-O Senhor te abençoe. - disse a mãe da possuída, e o silêncio novamente se fez atrás da porta.

Era o momento chave de salvar a alma daquela inocente. Respirando com dificuldade, ainda achou forças para proferir algumas palavras: "Pai Todo-poderoso e Deus eterno, mostra tua poderosa mão ao lançar fora os demônios de Constance. Dá-nos poder em teu Nome para libertá-la e compartilhar com ela o gozo de ter nossos nomes escritos no céu, pelo mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém."

-Que santo homem - disse novamente a vizinha - ainda segue orando! Sua filha já está salva nessa altura, aleluia!

O irmão e a irmã de Constance seguravam forte a mão da mãe, que por sua vez quase quebrava o crucifixo, tamanha era a fé com que o apertava entre os dedos. Estavam de olhos fechados, como se assim pudesse ouvir o som do demônio que assolava aquele quarto. Mas a voz que soou lá dentro era de um homem furioso e determinado:

-Espírito imundo, eu te ato em nome de Jesus Cristo para que não faças nenhum dano a ela nem aos demais que aqui estamos!

A cama tremia convulsivamente, parecia ter vida própria. As testemunhas do lado de fora ouviam claramente os pés da cama arranharem o piso de tacos de madeira, além do barulho incessante do colchão de molas. E saiu o grito:

-Eu te exorto, espírito imundo e mal, em Nome do criador e juiz dos vivos e mortos, e te mando, com a autoridade do Cristo que te condenou com o derramamento de seu próprio sangue, que saia de Constance!

Lá fora, a vizinha beata fez o sinal da cruz e resmungou "amém" bem baixinho. Todos escutaram uma última frase do padre, e então o baque surdo de alguém que caíra. Fez-se silêncio repentinamente e a família, com medo, invadiu o quarto. Constance dormia tranquilamente na cama, apesar de estar toda marcada. O homem santo estava ajoelhado ao lado dela, como um bastião das forças do bem. Grande parte dos 33 botões da batina desabotoados, a alva em desalinho no calor da batalha. E o demônio se fora...

Quando padre Albert acabou de contar a estória de seu primeiro e único exorcismo, praticado numa cidadezinha distante de Sistinas, os outros párocos olharam para ele com respeito. "Santo homem", pensavam. Um santo, como aqueles preocupados com a mais antiga questão da humanidade: "unde malum", de onde vem o mal? A questão de duplo sentido - faca de dois gumes - que levava então à herética pergunta: "unde deum"? Quem permitia que uma menina de quinze anos passasse por uma possessão violenta daquelas?


O presente, a missa em Sistinas:

-Deus todo-poderoso, lavai meu coração e meus lábios para que eu seja digno de proclamar vosso Evangelho. - começou ele, acompanhado por ministros com incenso e velas:

-O Senhor esteja convosco.

-Ele está no meio de nós. - respondeu a igreja inteira.

Padre Albert então diz qual evangelho vai ler, fazendo o sinal da cruz em sua fronte, lábios e peito. O povo repete o gesto. "Glória a vós, Senhor."

O santo padre, a princípio, nem reparou no nervosismo do homem sentado na primeira fileira de bancos...

"Possam as palavras do Evangelho apagar os nossos pecados." - ele disse, em voz baixa, após terminar de ler o evangelho. A leitura demorara um pouco, e algumas pessoas cochilaram durante ela. Menos o cara nervoso lá no primeiro banco, que o olhava fixamente como nenhum homem (ou demônio) tinha feito antes.

Muito após o encerramento da missa, depois que todos os fiéis já saíam da igreja para voltarem às suas vidas pecaminosas, um intrigado padre Albert ouviu a voz do homem: "Quero me confessar com o senhor."

-Agora, meu filho? Está bem. - e dirigiu-se ao confessionário. Quis, com todas as forças, que fosse algo rápido. Aplicaria uma penitência extra naquele malandro que ousou ter ficado o encarando o tempo todo daquele jeito.

-O que eu devo dizer padre, eu nunca... - o estranho disse por trás da fina tela do confessionário, que o reduzia a uma sombra ameaçadora.

-"Perdoe-me Pai, pois eu pequei...", é assim que todos começam, meu filho. Pedir perdão é um bom começo.

-Ah, sim. Eu pequei padre. - começou a falar, distraidamente. De seus lábios escapou também algo como "a humanidade está fodida", mas foi tão baixinho que Albert não escutou direito - Estamos sozinhos nessa igreja, padre?

-Só eu, você e Deus, meu filho.

-Ótimo. - o estranho resmungou, e Albert não gostou do tom zombeteiro de voz dele. Então viu algo ser encostado na tela, bem defronte seu rosto. Antes de se inclinar para enxergar melhor percebeu que era um revólver, mas por um segundo duvidou que fosse.

Os dois tiros entraram respectivamente embaixo de seu olho esquerdo e por dentro de sua boca, onde morreu seu grito derradeiro.

O estranho abriu a portinhola do confessionário - arma fumegante em punho - e se afastou, cambaleando. Todos os santos dos vitrais faziam caretas e bocas retorcidas... O sangue do padre já escorria para fora da estrutura de madeira quando o homem passou correndo pela enorme porta aberta, que mais parecia uma boca cuspindo um... demônio?

Fim do prólogo


Quatro dias antes, numa noite qualquer:

Ela estava sentada num ponto de ônibus, no escuro, e fumava como uma louca. Era bonita, e usava um decote que deixava ver o quanto eram grandes e macios seus seios. Tinha olhos claros, e isso evidenciava ainda mais o quanto estavam avermelhados, mas podia ser apenas sono pois já passava da meia-noite. Parecia um pouco nervosa, tanto que quando ele puxou papo, ela desatou a falar sem parar. Seu hálito forte cheirava à álcool, mas não dava pra saber exatamente o que tinha bebido.

Mesmo com a conversa sem sentido que se seguiu - típica de dois estranhos - dava pra perceber que ela estava desiludida, numa daquelas noites depressivas e pantanosas em que poderia topar qualquer coisa. Algum tempo depois estavam falando em dinheiro, ou, mais precisamente, na falta dele.

Analisando mais de perto, ele percebeu que o rosto dela não era tão bonito assim. Um nariz adunco ou olhos afastados demais um do outro, talvez. Era um pouco gordinha pra roupa escolhida e uma cicatriz de gravidez se fazia evidente, demarcando bem a barriga. Os seios eram bastante chamativos, mas só. Tinha as mãos inteiramente tomadas por anéis e usava vários símbolos e amuletos, pendurados em correntinhas, braceletes e pulseiras. Os jeans batidos cheiravam à suor, perfume barato e cigarro.

Ela o encarava de maneira penetrante às vezes enquanto as mãos inquietas - que terminavam em unhas de vermelho obsceno - seguravam o cigarro que nunca se queimava por completo. Por quanto tempo tinham conversado? O homem resolveu ousar um pouco mais. Pararam numa esquina mal-iluminada para se despedir e, em seu bolso, ele apertou o botão "play" num minúsculo gravador e perguntou:

-Você precisa de dinheiro. Quanto quer... pra ajoelhar aqui e me chupar? - sentiu um prazer perverso no verbo "ajoelhar", e sobreveio a ereção.

Ela fez uma cara falsa de espanto e indignação, mas quando percebeu que não o convencia, sorriu:

-Ah, só chupar? Sei lá, uns... vinte?

Foi a vez dele rir, e se apoiar no muro meio sujo. Ela olhou para os lados antes de se abaixar. Desajeitada, não sabia o que fazer com a bolsa que teimava escorregar de seu ombro enquanto abria o zíper da calça do homem. Não era uma profissional do sexo, ao menos até aquele momento.

Colocou a mão toda dentro da cueca dele, e o segurou. Tirou pra fora com dificuldade, pois já estava ereto, e lambeu a gota de excitação que brilhava na pontinha dele.

-Hummm, vai dar pra encher a boca. Você tá me pagando pra fazer algo que eu adoro. - a frase saiu dela tão falsa quanto estúpida.

-Chupa logo e para de falar.

Ela obedeceu e engoliu, primeiro só a cabeça, depois metade. Ainda tensa, soltou a bolsa no chão e se ajeitou, engolindo tudo que cabia. Era macia e muito quente aquela boquinha de fumaça que cheirava a bebida.

"Encher a boca você disse, né?" - seu pau já estava bem duro e avermelhado, tanto de tesão quanto do batom desgastado dela.

-Meus joelhos estão doendo. - ela reclamou, enquanto aproveitava para respirar um pouco. Definitivamente não tinha jeito pra coisa, ele pensou.

Quando olhava para baixo, ele reparava nos cabelos mal cuidados, displicentemente presos por um laço e as marcas vermelhas que as alças do soutien deixavam nos ombros de quem está acima do peso. A mulher fazia aqueles barulhinhos; gulp gulp, cada vez mais ritmados, indo e vindo de boca, quando ele a pegou pelo queixo, apoiando a outra mão no alto da cabeça dela.

-Espera, que você vai fazer? - quase engasgou.

-Quieta. Abre bem a boca.

E enfiou. Segurava forte a cabeça dela, metendo. Enterrava violentamente até seu saco doer, mas era assim que gostava. A chupadora reclamava, de maneira abafada, mas ao mesmo tempo aceitava desde que aquilo terminasse rápido. Resmungou aliviada quando sentiu o esperma amargo fluir. Só pensava agora em aproveitar a situação e tentar arrancar mais dinheiro dele:

-Você só goza assim?

O homem estava meio amolecido. Subiu a cueca, e depois fechou a calça em silêncio. Ela se sentiu uma oferecida, mas pensava que o pior já tinha passado, e que ele, por já ter gozado uma vez, não se demoraria muito. Além disso ela poderia cobrar mais notas dele. Preferia não lembrar que dentro da bolsa estavam os papéis de sua demissão, e ela não sabia como seria o amanhã.

-Não quer mesmo transar? - ela se odiou por perguntar, por insistir no assunto.

Ele tirou a carteira e jogou algumas notas no chão. Nem ao menos olhou para a mulher, e virou-se para ir embora. Pôs a mão no bolso e apertou a tecla stop, parando a gravação.

-Eu já fiz isso por menos, seu babaca!

-Imagino que sim. - ele respondeu, ainda de costas, como se falando com a mais barata das putas.

-Já fiz até de graça. Seu pau é pequeno e você tem ejaculação precoce! Goza muito rápido!

Ele acenou, sem se virar. Continuou andando, e cantarolou alguma música grudenta.

-Filho da puta! - ela gritou a última vez, amassando o dinheiro e enfiando no bolso.

A mulher não sabia disso, mas tinha acabado de engolir esperma de um homem possuído por um espírito maligno. Ele deturpava o sexo, transformando o ato em algo humilhante para as mulheres que cruzavam seu caminho.

Quando ele chegou em casa, apalpou pelo precioso conteúdo de seu bolso e tirou uma pequena fita do gravador. Era idêntica à tantas outras que estavam na prateleira, cada qual com um adesivo branco onde se lia um, ou dois nomes. Essa fita nova, por exemplo, ele colocaria num espaço vazio entre "Holly" e "Gaby/Ruby".

"Eu nem quis saber seu nome..."

Colocou a fita no aparelho de som novo e caríssimo, que destoava do resto do lugar miserável que chamava de lar. Alisou as teclas do painel com a mesma excitação com que tocaria no mamilo de uma mulher, e apertou uma delas.

-Ah, só chupar? Sei lá, uns... vinte? - ele ouviu novamente, nas grandes caixas de som que reproduziam a fita com altíssima fidelidade.

Adormeceu feliz, ouvindo as engolidinhas, "gulp gulp"...


Em outro lugar, o mesmo som, outra mulher estava chupando.

-Agora levanta.

Sonia estava caprichando (pelo menos achava que sim) mas parou e se levantou, como ele mandou. Foi colocada de quatro, e ele gozou minutos depois. Ela não, e ficou com aquela sensação de ser uma pedinte do sexo. Há tempos que seu prazer tinha ido embora.

Ele era um policial numa cidade estranha. Seus dias eram sempre difíceis, tanto que às vezes chegava altas horas da madrugada em casa. E sempre tinha pesadelos horríveis à noite. Enquanto isso ela ficava a seu lado, acordada, acesa, com aquele fogo lhe queimando as coxas, tanto que evitava encostar uma na outra. Nessas noites mal dormidas e mal fodidas, ela só pensava no que a impedia de arranjar um amante. Uma noite, e nada mais. Ninguém saberia. Coitado do homem que caísse em suas garras...

"Vai tirar meu atraso de quase uma década!" - ela pensou, sorrindo, e o sono veio fácil dessa vez.


No dia seguinte o homem do gravador estava sentado num consultório médico. A música monótona em som ambiente, as paredes brancas com seus quadros impessoais, revistas velhas de celebridas com suas notícias bizarras... e no meio disso tudo, estava ela: uma linda moça, uma flor que brotava naquele cenário deprimente.

-Qual o seu problema, menina? Que médico veio ver? - ele puxou papo.

A moça, que usava uma blusinha branca com saia e meia-fina pretas e cutucava um pequeno queloide no nariz, resultante do piercing inflamado que tirara recentemente, levantou o olhar da revista de fotonovelas que lia:

-Asma. - ela respondeu, e ele fantasiou estuprando aqueles lábios úmidos. Outros homens olham para a bunda das mulheres, ou seios, além dos que adoram pezinhos. Ele não, gostava era de boquinhas. A primeira parte que observava numa mulher. A parte mais sensual do corpo feminino, era por ali que elas imploravam, que elas soluçavam, que elas gemiam e gritavam, por ali que elas...

-Uma pena, assim fica difícil de beijar, não é mesmo? - e então viu que ela usava uma pequena aliança prateada. - Seu noivo deve ficar frustrado por não poder te beijar o tanto quanto gostaria.

A moça então fez um gesto inesperado. Tirou a aliança de repente, como se ela estivesse queimando seu dedo, e a jogou na bolsa que trazia à tiracolo. Apesar de achar que o estranho falava demais, tinha gostado da aparência dele. Mesmo sendo apenas uma beleza simples, que só se destacava ali, naquele cenário inóspito.

-Nós brigamos ontem. Nem sei por que ainda tava usando isso.

-Mesmo? Posso saber a causa da briga? - ele arriscou, sabendo que tinha aptidão para ouvir pessoas. Elas geralmente gostavam de lhe contar as coisas, sem perceber.

Sabia que toda mulher gosta de ser ouvida. É meio passo para a conquista. E essa caiu na armadilha, ajeitando-se na cadeira. Mas quando ela ia começar a contar, ele foi chamado por um aceno da enfermeira.

-É minha vez. Quando eu voltar vamos conversar mais?

Então o nome dela também foi chamado, em outra sala. Ela deu um sorrisinho, que ele não soube dizer se era de alívio ou apreensão. "Acho que não vai dar."

-Caso sua consulta acabe antes da minha, me espere. - insistiu.

A mulher balançou a cabeça, já entrando na outra sala.

A consulta dele foi chata, longa e demorada, além de ser com um médico. Seu humor piorou. E mal-humorado ele ficava violento.

Mas quando enfim saiu e chegou na sala de espera, a moça estava lá. Ela ergueu os olhos da revista de fotonovelas. Ele nunca tinha dado um sorriso tão sincero:

-Qual seu nome?

-Amber, e o seu?

-Amber. - seus olhos brilharam - Vamos sair daqui? Gostaria de lhe pagar alguma coisa, um suco ou café.

-Claro. - ela aceitou o convite e nem percebeu que ele, apesar da boa aparência, não lhe dissera seu nome.


Ele chegou em casa somente de noite. Tirou a fita nova de seu aparelhinho de bolso, e abriu o guarda-roupas onde estava seu uniforme (sim, todos os desajustados parecem ter um uniforme) que nunca parecia estar amassado ou sujo, e o vestiu. Nunca o usava durante "o ato" pois não podia ser reconhecido. Depois sentou-se no sofá, para ouvir sua nova gravação. No aparelho estava a fita com a voz de Maylee.

Maylee era japonesa e, apesar dos exóticos cabelos roxos e nome de prostituta, era executiva e levava uma expressão séria no rosto. Encolheu-se toda no primeiro tapa que levou, e quando ele se acabou nela, acertou um dos olhos, que ficou irritado e vermelho na mesma hora. Ele gostava de lembrar desses detalhes bobos, sabia o que tinha feito com cada uma só de ler os nomes rabiscados nas etiquetas das fitas.

Essa fita nova ainda não tinha um nome, até porque o ato com Amber tinha sido de certa maneira rápido. Então caberiam outras gravações ali... Quem seria a vítima do dia seguinte?


Sonia - aquela esposa insatisfeita daquele policial - costumava frequentar a igreja, apesar de não acreditar mais em sua própria fé. Ela ia pois parecia ser o certo. Na verdade, ia com um enorme sentimento de culpa por viver pensando em transar com o encanador, com o rapazinho cheio de espinhas que trabalhava na portaria de seu prédio, com o filho de seu ginecologista (que ela viu apenas uma vez de relance no consultório) e uma outra dezena de homens com quem ela convivia diariamente. Era o fogo que seu marido não apagava. Pensava nisso como sujeira, e era certo ir à igreja, não? Aquelas estátuas de anjos e santos a encaravam com olhos frios de pedra e lhe dirigiam uma censura muda, como se soubessem das masturbações dela em frente à fria tela de um computador conectado à internet.

Seu marido nunca estava em casa, trabalhava muito para manter o padrão de vida digno, enquanto Sonia vagava por aí "dando mole", como ela mesma definia a situação. E foi numa daquelas tardes quentes em que o tesão está aflorado que ela cruzou o caminho do espírito fornicador que (sim, pasmem) era um dos homens com quem ela convivia diariamente!

Ele não a reconheceu. Ela sabia bem quem ele era, mas não disse nada, e sua excitação ficou indisfarçável. O shopping onde estavam não era um local muito apropriado para nada íntimo, mas quando ele puxou conversa e a convidou pra sair dali, Sonia aceitou prontamente. Olhando para ela, o fornicador lembrou de Carmen, uma latina quente que tinha pego certa vez.

Carmen tinha cara de devoradora de homens, de puta mesmo, e voz rouca. Pediu que batesse o pau duro nas bochechas dela, mas fez beicinho quando ele gozou. Parecia ter nojo de esperma, e ficou indignada quando ele a segurou firmemente e a obrigou engolir o membro todo melado.

"A tarde será boa." - pensou ele, enquanto olhava o rebolado de Sonia subindo as escadas do motel barato onde entraram.


Sim, a tarde de sexo tinha sido boa, mas não totalmente como ele esperava. Algo diferente aconteceu: a mulher, a tal Sonia, o conhecia. Isso nunca tinha acontecido antes. Ele tinha gravado tudo como sempre, mas dessa vez não foi por prazer, foi como uma espécie de precaução. A mulher não poderia denunciá-lo, não sem antes passar por uma situação constrangedora, mas ele não quis arriscar. Além disso sentiu uma raiva sem limites. Decidiu que o marido dela receberia uma cópia da fita. Era casada, não? Assim ela receberia sua lição dentro do próprio lar. Maridos ciumentos matam quando são traídos, principalmente quando sua masculinidade está em dúvida...

Tirou uma cópia da fita sem etiqueta, que agora estava cheia com a gravação de Sonia, além da gordinha sem nome e também de Amber, aquela que tinha lábios de certa maneira virgens. Teve duas visões dela: uma como a criança levada que lhe mostrou a língua, tão vermelhinha que o excitou só de ver; e outra depois de abusada, com a metade esquerda do rosto vermelha, os olhos borrados por lágrimas dolorosas, saliva escorrendo até o pescoço... e a expressão congestionada com que ela ficava quando ele apertava seu nariz, fechando suas narinas enquanto penetrava a boca.

Passou o dia seguinte inteiro descobrindo tudo sobre a vida da mulher chamada Sonia, especialmente sobre o marido dela. Não gostou de saber que ele era policial, isso diminuía as chances de provocar um crime passional, mas resolveu arriscar assim mesmo. Deu uns trocados para o moleque que entregou o envelope pardo ao policial Burt, no 13° distrito policial de Sistinas. O marido de Sonia estava ouvindo a fita de maneira até displicente quando o policial Nielsen entrou na sala.

-O que temos aí, Burt?

-Uma gravação amadora que chegou hoje de manhã pra mim. Não tem nome, nada. Ainda não ouvi até o fim, mas é uma putaria só. Um elemento dá grana pruma puta chupar. A fita fica um tempo nisso, sons molhados e a respiração pesada do cara. Dei stop.

Nielsen observou o gravador na mesa, e passou a escutar com atenção moderada. De repente, a fita fez silêncio. "Ela cobrou vinte pra chupar o cara."

-Espere, Burt! Tá ouvindo? Parece que tem mais!

Outra gravação, na mesma fita.

"Não, o cinto não. Achei que era brincadeira e..."

"Calaboca, calaboca! Abre a blusa."

Algo ininteligível, então recomeçaram os sons molhados...

"Para, 'tou ficando sem ar!"

"Você gosta assim Amber. Capricha!"

-É outra mulher.

-Shh! - Burt levantou a mão pedindo silêncio, mas não soube dizer se era pura curiosidade policial ou algo mais.

"Argh, solta!"

"Quantas vezes seu noivo te comeu? Responde, sua (...) do caralho!"

"Nenhuma!" - choro, a voz dela fraquejou - "Ia me casar virgem, te disse."

A respiração forte da menina assustava Nielsen. Asmática, descompassada, fora do normal. Parecia tortura. Escutou um tapa tão forte que lhe deu vontade de desligar o gravador.

Os sons molhados recomeçaram. Eram bem nítidos agora. Sons próximos da garganta. E tinha a ânsia de vômito provocada.

"Vou tirar e você respira, sua grande filha da puta!"

A menina estava com uma grave crise respiratória. Aspirava longamente, chiando, fazendo uma sinfonia sofrível. Ela cuspia às vezes. Em meios aos gritos, a voz do homem: "O meu é maior que o do seu noivo? Olha de perto!"

O delegado montava a cena na cabeça; imaginou que o tarado tivesse puxado os cabelos da menina, pois os gemidos abafados dela e as engolidas molhadas recomeçaram. Nielsen olhava sem piscar para o gravador.

-Que merda esse cara tá fazendo, Burt?

O outro policial não respondeu. Ouviram em tempo real todo o estupro de Amber, e o quanto ela gritou e implorou para que o maníaco parasse. Burt quase pôde ouvir uma oração ao fundo, como se a moça estivesse pedindo para que o suplício acabasse logo.

Um clique frio indicava que o elemento tinha apertado stop na gravação. Então, o silêncio. Por um minuto exatamente, esse silêncio perdurou. E foi o último minuto de paz que Burt teve em sua vida, pois a fita, como que movida por uma criatura maligna, começou a contar sobre outro estupro, mas dessa vez consentido:

-Qual seu nome? - perguntou a voz masculina na fita.

-Eu me chamo Sonia. - respondeu uma voz à princípio tímida, e então Burt entendeu por que tinha recebido aquela gravação.

-É o seu nome verdadeiro? Todas mulheres que pego usam pseudônimos, como Cherokee, Montana, Nikki. Você não quer usar um também? Estou gravando o áudio de tudo que vai rolar aqui.

-Não, gosto do meu nome. Pode gravar. Eu ficaria preocupada se você estivesse gravando meu rosto. - ela respondeu, ansiosa.

-Sabe o que veio fazer aqui?

-Sim, sei exatamente o que vim fazer. E gosto. Gosto do que não tenho em casa.

-Falando assim dá vontade de te dar uns tapas na cara, Sonia.

-Ah, eu gosto de uns tapas também. Daqueles que fazem barulho sem arder, sabe?

-Está sendo paga pra isso?

-Não.

-Está drogada, ou bêbada?

-Claro que não, que merda de perguntas são essas?

-Pra quem ouvir saber que você não foi forçada.

-Quem vai ouvir?

-Ah Sonia, estou falando de maneira hipotética. Entre no espírito da fantasia. - ele desconversou.

Burt estava congelado de ódio. Nielsen - ao seu lado, de boca aberta- não sabia quem era Sonia. Para a sorte de Burt ninguém no distrito sabia. Com um autocontrole fora do comum, ele deixou a fita rolar, enquanto ouvia sua esposa (sorrindo!) ser xingada de vagabunda, de cadela, de...

-Mas que safada, Burt. Ela tá gostando! Isso tá excitante, eu diria. Vamos apostar no que o cara apronta com ela? - disse Nielsen, inocentemente.

O outro policial não respondeu. Suspirou fundo, apenas. Na verdade, estava excitado também. Ouviu coisas que nunca imaginaria ser capaz de sair dos lábios (daquela puta!) da sua esposa...

Então do gravador escapa um som bem abafado, porém ritmado. "Nic, nic, nic, nic..."

-Que barulho é esse? Porra, o que é isso, afinal? - Burt, suando frio, aumenta o volume.

-Isso é um colchão velho de molas... Cara, eles tão transando! - ao fundo, gemidos de mulher. Ela parecia estar gozando muito.

-Vou deixar uma chupada no seu peito só pro seu marido saber que eu te comi!

-Quê? Não, não faz assim, meu casamento...

-CALABOCA!

Nesse momento a fita acabou, e o marido traído deu um soco tão potente na mesa que derrubou o gravador, assustando Nielsen.

-Que foi, Burt? Qual o problema? É só uma gravação pervertida, não? Nem dá pra chamar de estupro, pois foi...

-Consentido, eu sei. Vou pra casa.

-Quem foi o doente que gravou isso?

-Não sei, mas se eu descobrir você será o primeiro a saber. - e Burt saiu da sala, fazendo questão de levar junto seu cassetete, com o qual já tinha descido porrada em tantos safados por aí. Antes de sair do distrito, checou se o revólver também estava carregado...

Não sabia quem estava zombando dele, mas sabia exatamente como começar a perguntar.


Sonia tomava seu banho, tentando lavar a maior das sujeiras de seu corpo. Pensava no que fazer agora, já que nunca mais poderia pisar na igreja. Nunca mais poderia encarar o padre, aquele homem - por sinal muito bonito - que lhe parecia tão firme, tão santo, tão católico, que ela nunca tivera coragem de se confessar com ele, não sem sentir-se nua.

Aquele homem que, para ver se sua putinha estava adestrada direitinho, ameaçou lhe dar um tapa. Quando Sonia fechou os olhos e se encolheu, ele riu e veio nela com mais força ainda!

Na verdade já tinha sonhado transando com ele. No sonho, após uma confissão onde contava todos os pecados que cometia em pensamento, eles treparam apoiados no confessionário. Sonhara também certa vez que recebia a hóstia de sua mão, e quando ia abocanhar a mesma, roçava explicitamente sua língua no dedo dele, lambendo. Lembrava de ter acordado molhada com aquela alegoria: queria outra coisa nos lábios, não hóstias!

Terminou seu banho, desorientada. A marca em seu seio estava feia, bem arroxeada. Diziam que gelo era bom para esconder essas coisas, então enrolou-se na toalha e foi até a geladeira. A porta da rua abriu-se ao mesmo tempo que a do congelador, e um raivoso Burt invadiu a cozinha: A visão dela com um cubo de gelo nas mãos, vestida apenas de toalha, o enfureceu ainda mais. Entendeu que se não tivesse ouvido a fita, ela esconderia tudo. "Que se foda o Burt", e ele nunca saberia que morava com uma...

-Putaaaaa!

Sonia deixou o gelo cair com a força do grito.

-Abre a toalha.

-Não... Burt... eu...

-Abre logo!

-Amor, eu...

-ABRE AGORA, senão te mato sem nem olhar!

Ela abriu, e lá estava. Como na fita. O arroxeado que manchava anos de casamento, de fidelidade. Uma marca da luxúria no seio esquerdo daquela mulher que um dia amamentaria seu filho. O que aconteceu depois foi muito brusco, rápido e selvagem.

Burt a pegando pelos cabelos, empurrando-a em direção ao quarto. Sonia nua, chorando e implorando, caída encolhida na cama, enquanto mechas de seus cabelos grudavam nos dedos suados do marido. Burt enfiando o cano do revólver em sua boca, gritando e xingando. Sonia engasgando com choro e saliva. Burt estapeando o rosto dela. Sonia desesperada, sem reconhecer o próprio marido. Burt montando nela, mordendo seus seios como um animal, como que tentando tirar aquele chupão maldito com os dentes. Sonia sangrando. Sonia pedindo para não morrer, desistindo de sua dignidade, oferecendo-se para ser uma cadelinha obediente por toda sua vida. Burt rindo de maneira sádica, amarrando-a com o cinto do seu uniforme. A pele de Sonia cheia de marcas roxas respingadas de vermelho. Burt penetrando, gritando e cuspindo no rosto dela enquanto a fodia, enquanto arrancava mais uma grande porção de seus cabelos. Enfiando na cara dela cada tapa ardido que escutou na gravação. Tapas que queimavam em seu rosto, mas doíam ainda mais em sua decência perdida. Sonia encolhida e sem voz, recusando-se a responder se tinha gostado da fita, e pedaços de seus dentes cortando sua gengiva depois do soco recebido. Burt mordendo seus mamilos ensanguentados e gozando de maneira animalesca, como um bicho feroz liberto. Sonia perdida, sem saber se a umidade era sangue ou a urina do medo que escapava entre suas pernas. A torrente implacável de xingamentos intermináveis que ouvia da boca do marido. Burt virando-a de costas na base da porrada, trazendo o grosso cassetete para a cama. Sonia com os olhos roxos e quase fechados depois de tantos socos, tentando protestar...

-Eu, eu... Burt, juro por Deus, eu não fiz sexo anal com ele!

-Nem comigo, nunca, mas agora sabemos quem você é de verdade! - ele respondeu, louco e excitado. Foi introduzindo lentamente aquele cassetete suado de tanta pancada e manchado de sangue dentro dela, que gritava pedindo o fim...


Horas depois, durante a missa em Sistinas:

-Deus todo-poderoso, lavai meu coração e meus lábios para que eu seja digno de proclamar vosso Evangelho. - começou o fornicador padre Albert, rindo por dentro com a ironia daquela declaração. Era ele quem andava lavando certos lábios por aí.

"Filhodaputa. Ela me contou que foi você." - pensou Burt, sentando na primeira fileira de bancos da igreja.

-O Senhor esteja convosco.

-Ele está no meio de nós. - responderam todos.

"Ela me contou enquanto eu a rasgava. Agora vou te matar também, padreco."

Padre Albert então diz qual evangelho vai ler, fazendo o sinal da cruz em sua fronte, lábios e peito. O povo repete o gesto. "Glória a vós, Senhor."

O padre, à princípio, nem reparou no nervosismo de Burt.

"A puta já morreu. Agora falta você."

"Possam as palavras do Evangelho apagar os nossos pecados." - Albert diz baixinho, após terminar de ler o evangelho. A leitura demorara um pouco, e alguns cochilaram durante ela. Menos Burt, que o olhava fixamente como nenhum homem (ou demônio) tinha feito antes.

Após o encerramento da missa, depois que todos os fiéis já estavam fora da igreja, padre Albert enfim ouviu a voz do homem: "Quero me confessar com o senhor."

-Agora, meu filho? Está bem. - e dirigiu-se ao confessionário. Quis, com todas as forças, que fosse algo rápido. Aplicaria uma penitência naquele malandro e depois sairia pela noite à procura de mais uma para abusar e gravar.

-O que eu devo dizer padre, eu nunca... - Burt disse por trás da fina tela do confessionário, que o reduzia a uma sombra ameaçadora.

-"Perdoe-me Pai, pois eu pequei...", é assim que todos começam, meu filho. Pedir perdão é um bom começo. - respondeu Albert, quase bocejando.

-Ah, sim. Eu pequei padre. A humanidade chegou a um tal ponto que, se Deus existir mesmo, estará mais fodida do que salva... - ele disse, num tom de voz assustador - Estamos sozinhos nessa igreja, padre?

-Só eu, você e Deus, meu filho.

-Ótimo. - Burt resmungou, e Albert não gostou do tom zombeteiro de voz dele. O padre viu algo ser encostado na tela, bem defronte seu rosto. Inclinou-se para enxergar melhor e percebeu que era um revólver. Algo gritou dentro dele, antes mesmo dos dois tiros. Quando o corpo do padre tombou morto, Burt escutou em sua mente uma voz perguntar:

"Você a matou, seu frouxo?"

-É claro que matei aquela vagabunda... - respondeu Burt em voz alta, sem perceber que o sangue do padre tinha pintado as paredes do confessionário, respingando inclusive em sua mão armada. "Aquilo" estava lá, era como se fosse o mal em estado líquido, e o assassino do padre (agora um grande pecador também) sentiu na alma o exato instante em que seu corpo, sangue e mente foram invadidos e possuídos por ele.

-Requiescat in pace. - aquilo disse, usando a boca de Burt e olhando para o cadáver do padre Albert.


O passado,

-Cristo, por sua natureza divina e por seu sacrifício vitorioso na cruz, tem todo poder e autoridade para dominar os demônios e espíritos malignos. Ele conferiu esta autoridade à sua Igreja, e eu, na fé que tenho em Cristo, compartilho dela. - Alfred disse.

A possuída ria histericamente. Um filete de saliva escorria pelo canto de sua boca. À princípio o padre não acreditava que ela estivesse possuída, mas como era linda ele quis se aproveitar. Ficava à todo momento tentando minimizar, dizendo à si mesmo que não era uma possessão e sim algum distúrbio psiquiátrico. Essas tentativas de desvincular a garota do diabo eram apenas desculpas para fodê-la sem remorso! Recebeu o dinheiro da mãe para fazer o rito do exorcismo, para acalmar sua filha que de repente se comportava de maneira extremamente sexista, se oferecendo para os vizinhos e se masturbando diante das janelas. Constance não vomitava, não falava em línguas estranhas e nem girava a cabeça em 360 graus. Ela apenas buscava sexo, como um animal num cio destrutivo e incontrolável.

"Não vê que estou com água na boca e quero?" - ela gemeu baixo. Estava amarrada na cama com correias de couro compradas por sua amada mamãe. Essa senhora sofria, parada atrás do padre, segurando com força a mão de sua outra filha. Um crucifixo escorregava entre seus dedos suados, tensos... Ao seu lado estava o filho mais velho.

-Saiam todos e tranquem a porta! Agora! - gritou o padre, agora não mais como padre. Era apenas um homem cego pela excitação.

A voz de comando dele assustou a família aflita. A mãe, que parecia letárgica, deu um pulo de surpresa e arregalou os olhos. Puxando os dois filhos, ela se retirou.

-Não abram, nem entrem aqui até eu sair!

-Sim senhor!

-Não importa o que ouçam aqui dentro, não abram essa porta!

-Sim, sim padre; mas salve minha Constance!

Então o padre voltou-se para a mulher na cama. Olhou, examinando-a demoradamente. "Que corpo perfeito", pensou. Esfregou seus tornozelos subindo pelas correias, apalpou suas coxas e correu os dedos pelo sexo quente e molhado dela. Abriu a camisa e massageou aqueles seios firmes, convidativos. Checou se os pulsos da estavam bem presos enquanto sussurrava que ia possui-la.

A jovem se debatia, erguia o corpo tentando beijá-lo. Queria que suas mãos tocassem os bagos do padre. Implorava por aquilo.

-Ó Deus Todo-poderoso e Pai misericordioso, confessamos diante de ti o pecado de nossas vidas e a debilidade de nossa natureza.

-Me fode, padre gostoso.

-Não somos dignos de ministrar em teu Santo Nome...

-Você não é digno, você não vale nada. Só quer me comer, confessa, seu puto!

-...porém pedimos teu perdão e o poder de fazer tua vontade porque tu nos chamaste e nos limpaste pelo sangue de teu amado Filho Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém. - ele orou.

As pernas de Constance estavam afastadas, logo abaixo dos poucos pelos pubianos seus grandes lábios desabrochavam, molhados, e seu suco escorria, era de onde saía aquele cheiro tentador de mulher excitada. "Ó eterno Deus, criador e Salvador, concede misericordiosamente tua ajuda e proteção divina a nós, teus servos, ao ministrar em o Nome e com a autoridade de teu Filho Jesus Cristo." - o padre cedia ao pecado.

-Me chupa, lambe... Encosta a boca aqui e nunca mais vai esquecer de mim!

-Olha com compaixão para essa pessoa aprisionada por Satanás, o antigo mentiroso e inimigo dos homens.

-Então vem na minha boca...

-Olhai por mim, um pobre padre fornicador. Eu quero possuir sua serva, lhe mostrar meu instrumento sagrado (e nesse momento ele desamarrou o cíngulo que cingia sua batina, a representação simbólica da castidade que já não tinha) para mergulhá-la na luxúria e abençoá-la com meu sêmen, para curá-la! - e então esfregou seu membro duro nos lábios da menina. Ela o aceitou.

-Diga.

-Hnnnf.

-DIGA! Eu te ordeno em nome...

-Amém. - ela resmungou, enquanto sua boca faminta explorava o sexo latejante do padre.

O homem soltou um dos tornozelos dela das correias, virando-a de costas na cama. Sua outra perna continuava presa, assim como os pulsos, mas isso não a impediu de ficar de quatro, do jeito que gostava. Ele, por sua vez, não sentiu dificuldade alguma em penetrá-la com toda aquela umidade. Largou a bíblia nas costas dela, aberta no livro de Mateus. "12.22-30" ele anunciou, ao mesmo tempo em que Constance gemia se acostumando com aquele membro grosso e pulsante em suas carnes.

Mantendo sempre o ritmo, a menina balançava arrastando a estrutura da cama junto, numa dança demoníaca e sensual. O padre ia lendo as passagens em voz alta, e quando se empolgava em alguma parte, deitava sonoros tapas em Constance. Penetrava com gosto, forçava a rebolada do quadril dela para os lados, e abria as nádegas para ir ainda mais fundo. Pressentindo o orgasmo, pediu para todos lá fora orarem junto com ele. Enquanto dizia o verso "Que encontra em ti uma torre forte" seu membro avermelhado aumentou de diâmetro - e assim gozou - ouvindo os lábios da mãe dela clamando lá fora "O Senhor te abençoe"!

Fez mais uma rápida oração por Constance, enquanto a posicionava novamente de quatro na cama. Queria que ela se empinasse mais:

-...dá-nos poder em teu Nome, para libertá-la e compartilhar com ela o gozo... Amém.

A menina estava na posição que ele mais apreciava, propícia para uma bela cavalgada.

-Me machuca. Me pune. Me come. Me bate!

O padre então passou uma correia entre os lábios rachados dela, que já sangravam de tanto que ela se mordia. Esse sangue se misturava com saliva e respingava no travesseiro. Ele segurou com a mão esquerda a correia, como se fosse a rédea de algum animal selvagem, indomável. "Espírito imundo, eu te ato em nome de..."

Esfregou-se nas nádegas dela e penetrou. Jogava o corpo contra ela com força. Nunca tinha sentido tanta vontade assim, tanto vigor, enquanto fodia uma mulher. E agora aquela possuída que soltava gemidos abafados era toda sua. A grossa correia cortava impiedosamente os cantos da boca da pecadora, e mais sangue vertia para alimentar o demônio que habitava naqueles lençóis; demônio esse que também era regado pelos líquidos vaginais abundantes que pingavam das coxas semiabertas de Constance. Ela tremia, orgasmos múltiplos que vinham em ondas fortes, espasmando todos seus músculos, numa convulsão sexual.

O padre gozou rápido dessa vez, inevitavelmente. Deixou que tudo jorrasse dentro dela, desabando de maneira desajeitada por cima daquele corpo firme e jovem. Os olhos de Constance, injetados de tesão e ódio pelo término do ato, o encaravam fixamente.

"Eu te exorto, espírito imundo e mal, em nome de..."

-Você gostou de me foder. - ela disse, quando ele puxou a correia de sua boca.

"...Cristo que te condenou com o derramamento de seu próprio sangue..." - ele vestia novamente as calças, se recompondo.

-Você gostou de foder e machucar esse corpo, padreco. - retrucou, lambendo o corte no canto dos lábios.

-Que te vás para o teu próprio lugar de trevas e solidão e que não voltes mais!

-Eu sei onde é meu lugar agora! - ela cuspiu nele, um jorro escarlate. E então aquilo - o espírito fornicador - foi junto com o sangue amaldiçoado.

O padre teve a maior e mais dolorida ereção de sua vida, caindo de joelhos à beira da cama com as mãos no rosto. Constance desmaiou, e nesse momento sua família invadiu o quarto. Sentiram o cheiro de sexo no lugar e perceberam a batina entreaberta do padre, mas a menina tinha desfalecido com um semblante sereno. Como parecia enfim em paz, exorcizada, a família resolveu fazer um pacto de silêncio, e fingiram ignorar as barbaridades de padre Albert, que saiu correndo, cambaleando da casa, para nunca mais ser visto naquela cidade!


Comentários do autor

A palavra exorcismo vem do grego exorkizein, que significa "unir por juramento ou desalojar espíritos".

Requiescat in pace é a expressão original da conhecida sigla R.I.P. (rest in peace, em inglês) e quer dizer "descanse em paz".

"Luxúria Encarnada" foi publicado originalmente em 29.10.04. Reescrito em 2012 para o relançamento do site.


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