Sistinas
Baby sitter
#23

Baby sitter

Ela se apresentou como Joyce Sprenger. Impossível despregar os olhos daquela moça. Loura, os cabelos presos em tranças que davam mil ideias de como segurá-las numa transa! E os olhos?

Pois é, os olhos. Era a coisa que não se encaixava direito naquela diva. Sabe, seria natural que fossem azuis, ou mesmo verdes, pelos traços dela. Mas não, eram negros como a noite... mas uma noite de luxúria!

"Calma James. Esqueceu que ela é apenas a nova babá de sua filha?" - pensou o homem. Estava imaginando coisas. Respirou fundo, e respondeu para a moça sentada à sua frente, calmamente, controlando o olhar desejoso:

-Você é perfeita... Para esse serviço, quero dizer. Está contratada.

A mulher chamada Joyce sorriu, e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

-Obrigada, senhor James. Eu sou nova na cidade, então imagine como está sendo difícil arrumar emprego. Puxa, nem sei como lhe agradecer pela confiança!

"Eu sei exatamente como você poderia me agradecer!"

-Posso conhecer sua filha agora? - ela perguntou, séria, tirando da cabeça de James as ideias libidinosas que lhe ocorreram naquele momento.

-Sim, claro! Meu anjinho está dormindo lá em cima. Venha, vou te mostrar a casa toda.

Era uma casa espaçosa. Na verdade, era grande demais para um pai solteirão e sua menina pequena, mas era aconchegante. James tinha um ótimo emprego e podia se dar ao luxo de morar bem. Tinha um pacto com a filha: o de não colocar nenhuma mulher no lugar de sua mãe, pelo menos não enquanto ela fosse uma criança.

Em partes, foi até mesmo por isso que ele precisou contratar uma babá, pois precisava às vezes sair para se divertir, paquerar e transar com alguma garota que caísse em sua impecável imagem de quase quarentão bem sucedido. Tinha também as escapadas que dava com Christina, no trabalho.

-Qual o nome dela? - Joyce perguntou, quando pararam de frente para a cama da menina, que dormia um soninho muito gostoso. Dava inveja e vontade de se deitar ao lado dela, torcendo para que seus sonhos de criança aflorassem pela casa.

-Mary.

-Que lindo nome, digno de uma linda criança. Será um prazer cuidar dela. - a babá sorriu, falando baixo, e então perguntou: Devo te chamar de senhor, ou... apenas James?

Da maneira como ela perguntou aquilo, lhe pareceu uma armadilha.

-Como quiser. - ele respondeu, meio sem graça.

-James. É um bonito nome também. Soa mais simpático assim. "Senhor" lhe dá uma imagem falsa de ser velho, ou carrancudo. - ela sorriu de novo.

-Pode jantar conosco? Seria uma pena acordá-la agora. - ele convidou, mudando de assunto.

-Sim, sem problemas. Volto à noite, e assim conhecerei sua filha. Será que ela vai gostar de mim?

-Acho que sim. Ela é muito meiga, se apega fácil às pessoas. É muito sincera, como toda criança, mas acredito que irá gostar de ter você por aqui. Fique tranquila.

Quando Joyce foi embora prometendo voltar para o jantar, James afundou-se no sofá. Teve a sorte de arranjar uma linda babá!


-Eu atendo, pai! - a menina pulou da cadeira assim que a campainha tocou.

Era Joyce, e trazia uma sacola. Quando o olhar das duas se cruzaram, ainda na porta, James percebeu que realmente tinha acertado na escolha. Mary gostou de sua babá logo de cara.

-Entre, já vamos jantar!

Joyce abaixou-se, beijou o rosto da menina e lhe entregou um doce. Disse também que tinha algumas coisas na sacola, mas só as mostraria mais tarde:

-Agora vou ajudar seu papai preparar o jantar. Vamos?

A pequena gostou da ideia, e as duas invadiram a cozinha, alegres. Mas James era um homem calejado pela solidão. Já estava com tudo pronto, para a frustração de ambas.

-Ah pai! Assim não vale, não vamos ajudar em nada?

-Bem querida, infelizmente já preparei o jantar sozinho mesmo.

-Seu papai cozinha bem, Mary?

A menina acenou com a cabeça, empolgada. "Sim, ele é o melhor homem do mundo!" James foi preparando a mesa, enquanto sua filha sentou-se inquieta numa das cadeiras. Quando voltou para a cozinha, Joyce passava o dedo pela calda do pudim.

-Isso está uma delícia, mas confessa: Já veio pronto, não?

-Só o pudim. Mas não espalhe para ninguém! - ele sorriu.

-Experimente um pouco. - ela retrucou, com o dedo indicador melado de calda, apontado para ele.

Foi sem maldade alguma, e ele poderia jurar isso pelo olhar inocente de Joyce. Mas quando encostou a boca no dedinho da moça e lambeu, segurou-se muito para não agarrá-la ali mesmo. Ela saiu da cozinha normalmente, e James se detestou por estar imaginando demais. "Acho que preciso ligar para Christina, estou com falta de mulher!"

O jantar foi servido, regado a brincadeiras. Realmente a linda moça era muito boa em tratar de crianças. Mary adorou Joyce, e aceitou a ideia naturalmente. Imaginou que quando precisasse sair, sua filha enfim estaria em boas mãos, e não seria mais alvo dos ciúmes infantis dela.

-Mary, trouxe umas amiguinhas minhas que sempre me acompanham. Você quer ser amiga delas também?

Os olhinhos cheios de vida da menina brilharam. "Quero!"

Então Joyce tirou algumas bonecas da sacola que trazia. Mary sorriu, e gostou de cada uma delas. Mas James olhou estranho para a babá pela primeira vez, pois sentiu algo inexplicável naquele momento, um calafrio.


Uma semana se passou, e parecia que Joyce sempre fizera parte da família. Se adaptou de tal maneira à eles que tudo era natural entre os três. Sua filha, principalmente, tinha adotado de vez a babá. Ela e suas bonecas.

-Papai, Joyce pode morar conosco? - a menina soltou, de repente.

-Por quê?

-Você sabia que ela não tem onde morar? Podia ficar com a gente!

James sentiu medo. A ideia não era má, do ponto de vista masculino, claro, mas já pensava na tentação que seria a garota morando em sua casa.

-Penso nisso depois, querida. E você é muito novinha para ficar pensando nessas coisas.

-Ah, pai, deixa vai! Chama ela pra morar com a gente! Por favor...?

Adulação. E qual adulto não se derrete com isso?


-Nossa senhor James, quero dizer... só James! Que notícia boa! Eu não consigo arrumar um lugar para morar. Obrigada por sua hospitalidade.

Ele não parou para pensar em nada. Talvez se arrependesse mais tarde, principalmente por não entender que dificuldades ela tinha em arrumar outra moradia. Como assim, se ele lhe pagava um ótimo salário? Mas, no fundo, sabia que queria manter aquela doce babá por perto. "Perto demais!"

Seus temores se mostraram reais, pois com o passar do tempo a moça ficava mais e mais à vontade, e de vez em quando ele flagrava cenas de nudez quando passava de madrugada pela porta aberta do quarto que dera à ela.

O primeiro incidente desse tipo aconteceu numa noite muito quente, em que ele não conseguia dormir. Desceu até a cozinha, para bebericar algo. Na volta para o quarto, teve curiosidade de espiar como dormia Joyce. Ela estava nua. O lençol cobria muito pouco, e ele ficou maravilhado com a perfeição daquele corpo. De repente, sentiu um arrepio estranho. Só descobriu a fonte de sua perturbação quando viu as bonequinhas dispostas ao redor da cama. Todos os olhinhos brilhavam, e pareciam observá-lo! Todas as boquinhas sorriam. Aquilo lhe pareceu um tanto macabro...

Adormeceu, horas mais tarde, levemente excitado com a visão que teve do corpo de Joyce.


-Bom dia! - uma voz calma o acordou, e junto veio o aroma doce do café da manhã.

-Bom dia... Que faz aqui? - James perguntou sem graça, pois ela tinha invadido seu quarto.

-Desculpe, percebi que o senhor dormiu muito tarde. Achei que gostaria de café na cama.

"Espere! Como ela percebeu? Me descobriu olhando para seu corpo ontem?" - pensou, e esses pequenos detalhes, apesar de excitantes, começaram a incomodá-lo.

-Vou acordar Mary agora. Com licença, James. Espero que goste do café.

Não, o café não estava bom. Ele tomou apressadamente e se preparou para um dia estressante de trabalho. Antes de sair, foi dar um beijo em sua filha. Entrou silencioso no quarto, observando como o sono dela era sereno. Mary estava abraçada com um ursinho, que ele nunca tinha visto antes por ali. "Presente da Joyce, claro."

-A menina é um doce. E parece que gostou do meu ursinho. Vê como ela sorri?

James tomou um susto, pois a babá estava parada atrás dele. Mas, realmente, Mary estava com um alegre sorriso nos lábios.

-Sabia que na idade das trevas as mães costumavam dar tapinhas no nariz das crianças caso sorrissem durante o sono? Isso era sinal de que Lilith, a mãe negra, estava brincando com elas...

-Se minha filha sorri, é sinal de que está tendo um sonho muito agradável. Nada mais. Vou trabalhar, cuide bem dela, sim? - ele respondeu seco, olhando estranho para ela pela segunda vez.

-É para isso que você me paga, James.


-Quem é "Joyce"? - perguntou Christina, cruzando provocantemente as pernas, enquanto James ajeitava sua mesa de escritório.

-É a nova babá de Mary. Por quê?

-Por nada. É que você se atrasou e liguei na sua casa. Ela atendeu, mas não me pareceu ser uma mera babá. Não pelo tom de voz dela! Anda comendo essa moça, James?

-Não sabia que era ciumenta, Christina.

-Toda mulher é, em maior ou menor grau. E um solteirão como você abrigando uma babá é de se estranhar. Sei que anda a perigo, senhor diretor-executivo! - Christina respondeu, brincando com seu chefe. Era uma executiva também, mas que prestava contas à ele.

-Ambos andamos a perigo, querida. Seu casamento acaba quando mesmo?

-Não gosto que pergunte dessa maneira. Fica tão... vulgar! Meu casamento acabará quando me for conveniente. A vida toda é assim, feita de conveniências e de oportunidades.

-Mudando de assunto... Você tem a tarde livre hoje, Christina?

-Safado. Quer trepar, não é? Custa caro minha cama, você sabe. Estou de olho na próxima dança de cadeiras, que fará por mim?

-O bom de se lidar com safadas é que acaba tudo sendo uma questão de preço, não é mesmo? - ele riu.

Christina levantou-se, sorrindo também. A relação entre os dois já tinha passado há muito tempo do profissionalismo. Eram amantes, mas também dividiam as metas e objetivos nos negócios com o mesmo ardor que compartilhavam uma cama.


Christina estava deitada de bruços, a cabeça apoiada nos braços cruzados, como que escondida daquela foda forçada. Forçada sim, pois a executiva não tinha gostado do pedido dele:

-Amarre seus cabelos, faça duas tranças? Quero realizar uma tara...

Não queria mais encará-lo. Seria a putinha da babá que ela estava "encenando" para seu amante? No fundo, ele era como seu marido, tanto no aspecto físico quanto no jeito de transar. E foi para fugir do mesmo marido que tinha se deitado com James pela primeira vez. Foi tão bom que gerou a segunda trepada, a terceira, e não conseguiram mais parar de se encontrar, religiosamente nas quartas, no período da tarde. Era o dia menos suspeito da semana. Mas começava a se tornar cansativo, como hoje.

O quadril levemente erguido rebolava no ar, enquanto James tentava encaixar-se nas carnes molhadas dela que agora estavam totalmente abertas em sua frente, ao alcance de seu membro latejante. Gostava de pegá-la naquela posição, sentia-se realmente o macho dominador.

Christina estava puta com aqueles movimentos burocráticos, apesar de frenéticos, entre suas nádegas. "Ele está fodendo a babá, e não eu. Que filho da puta..." Quase preferiu que ele broxasse, ou que se acabasse logo, quando levou um tapa forte na bunda, a senha para que se virasse de frente.

-Quero na sua boca, agora! Vou goz... Ohhhhh! - James puxou forte Christina pelas tranças, mal dando tempo de se esfregar no rosto dela.

-Ah, James... Isso vai te custar um cargo bem alto! - ela disse, lambendo o esperma dele dos lábios melados.


Joyce serviu o jantar, e fez uma esquisita oração antes de comer. Mary a acompanhava, murmurando coisas ininteligíveis. James estava tão cansado da manhã de trabalho e da tarde de sexo que preferiu ignorar esse detalhe.

-Quem é "Christina"?

Ele desacreditou quando escutou a pergunta da babá. Engasgou com a comida, nem teve como disfarçar. "É minha executiva na empresa. Algum problema?"

-Não senhor James, nenhum. Ela ligou hoje pela manhã, e a Mary me falou algumas coisas sobre essa mulher, não é querida?

A menina, que jantava calmamente, acenou com a cabeça. Ela nunca gostou da "amiga" de seu pai. Joyce olhou novamente para ele, com um certo ar de interrogatório.

-Cheguei atrasado no trabalho, e tínhamos uma pauta urgente para discutir. É só. Obrigado por anotar o recado. - ele respondeu, ironizando a indiscrição da babá.

-Papai, o senhor passou a tarde toda fora. Eu tentei falar com você! Joyce me disse para ligar na Christina, mas ela também não tava lá. Vocês saíram juntos?

James suspirou fundo, sem perceber o leve e enigmático sorriso nos lábios da babá.

-Hora de dormir, minha filha. E o papai também está cansado. - disse com firmeza, pois sabia que se desse corda a conversa iria mais longe que o necessário. Teria uma séria conversa com Joyce depois.

Levou Mary para a cama e lhe contou uma história infantil para que dormisse. Sonolenta, ela resmungou que as lendas que Joyce contava eram mais interessantes. Depois disse baixinho: "Boa noite papai."

-Boa noite, minha filha.

-Boa noite, NEBIRU. - ela disse, em seguida.

-Quem, minha filha? - James perguntou, mas ela já tinha adormecido. Pelo jeito que abraçou o ursinho, imaginou que fosse o nome dele. "Nebiru... Que diabo é isso?"

Quando voltou para a sala, Joyce estava com as três bonecas restantes, parecendo uma criança grande. Quase desistiu de dar-lhe a bronca que merecia:

-Que história é essa de mandar minha filha ligar na Christina?

-Desculpe senhor. Apenas quis acalmar a Mary, ela estava ansiosa para falar com...

-Mesmo assim! - ele interrompeu, bravo - Não quero que isso se repita, ok?

-Se prefere repreender a mim e a sua filha por essa mulher, tudo bem.

O jeito cínico com que disse aquilo lhe deu quase certeza de que ela sabia das trepadas semanais que tinha com Christina. Mas como haveria de saber? Levantou a mão, como se fosse falar algo, mas desistiu. Preferiu ir também dormir. Saiu da sala, mas então voltou-se, e perguntou, com súbita curiosidade:

-Qual o nome dessas suas bonecas, Joyce?

-Ah, minhas lindinhas? Bem, essa aqui é MARUKKA, essa se chama ZISI e a aquela ali eu batizei de NINNUAM. Cada uma delas tem uma história, o senhor quer ouvir?

James negou com a cabeça, e foi para a cama pensando naqueles estranhos nomes. Teve um sonho molhado com a babá...

Acordou no meio da madrugada, incomodado. Então ouviu vozes na casa. Escutando direito, pareciam crianças conversando, mas de maneira estranha. Quando se levantou, as molas de sua cama reclamaram, fazendo um leve barulho. Foi o suficiente para a conversação silenciar. Mesmo assim foi em frente e abriu a porta. Quem sabe não flagrava novamente a babá dormindo nua?

Sim, ela estava. Dessa vez estava de bruços, e sem lençol. A porta, escancarada. Estava faltando algo no quarto. Permaneceu ali, parado, observando cada detalhe do corpo nu. A luz que vinha pela janela mostrava algo, e as sombras delineavam ainda mais. De repente, ele caiu em si. Que estava fazendo? Observando a moça dormir, igual um tarado? Resolveu beber algo para voltar ao sono, e quando passou pela sala, percebeu o que faltava no quarto:

As bonequinhas! Todas as três, jogadas ao chão. Não tinha certeza se Joyce deixara ali mesmo, pois estava brincando com elas, mas... Foi quando percebeu o telefone fora do gancho. Pegou o fone mas a linha estava muda. Teve curiosidade de apertar para rediscar, será que alguém tinha usado?

"Pare de imaginar coisas, James! Coloque de volta no gancho e vá beber algo!" - pensou, negando as próprias desconfianças. Chegou na cozinha, esquentou leite e tomou; sua receita particular contra insônia. O sono veio assim que voltou ao quarto. As bonequinhas ficaram espalhadas pela sala, e ele resistiu à tentação de novamente espiar a babá.


-Como assim, morta?

-James, eu nem sei como lhe dizer! Sei que Christina era sua melhor executiva, mas foi encontrada nessa manhã num apartamento perto daqui. Foi morta pelo próprio marido, num ataque de ciúmes! Parece que o local era ponto de encontro dela com o amante, que nunca saberemos quem é.

-Por que? E o marido dela? Ele não contou?

-Ele diz que não se lembra de nada, James. Está preso. Tudo aconteceu nessa madrugada, ele descobriu algo e a obrigou ir até lá, então...

Inacreditável. Christina estava morta. Foi um golpe e tanto, mas e seu segredo? Era naquele lugar que transavam todas as semanas, onde viveram as tardes mais quentes de suas vidas. "Morta... Meu Deus!"

James voltou para casa naquela manhã, sem condições de trabalhar. Se o marido dela descobriu tudo, então por que não o atacou também? E agora? E se ele contou para alguém? Será que foi por isso, uma estranha premonição, que não conseguiu dormir direito?

Resolveu visitá-lo na delegacia. Não eram amigos, mas ele sabia que James era chefe de sua falecida esposa. Durante o tempo da visita, o homem se comportou de maneira desesperada por não se lembrar do motivo que o levou a cometer o crime. James lhe ofereceu os melhores advogados assim que teve certeza do apagão de memória do assassino, e ficou aliviado por perceber que seu segredo morrera com Christina, a esposa adúltera.

Foi embora, deixando o homem sozinho, sem saber que minutos depois estranhas vozes de criança invadiriam aquela cela...


Joyce já cuidava da casa, quando James chegou. Ela estava metida num short minúsculo e camiseta úmida. Perguntou por que dele estar de volta tão cedo mas não lhe pareceu, em momento algum, surpresa com a notícia da morte da executiva. Imaginou que ela também não gostava de Christina.

-Eu limpei sua sala particular ontem, James. Não sei se o senhor gostou.

-Ah, limpou? Sim, tudo bem. Se precisar de mim, estarei lá.

-Papai, que bom que voltou cedo! Vamos no parque? Ou no shopping, ou no cinema?

-Hoje não, filha. Mas eu trouxe sorvete, e podemos brincar aqui mesmo, se você quiser.

-Claro, preciso te mostrar um truque que a Joyce me ensinou! - a menina correu para o quarto e voltou com um gravador debaixo do braço. Era um gravador simples, desses de criança, bem coloridos. Ele nem sabia que ainda funcionava, já que era um brinquedo antigo de Mary.

-Que faremos? Você quer cantar para o papai gravar?

-Não pai. Eu já gravei umas coisinhas enquanto você trabalhava! Quer ouvir?

James passou a mão pelos cabelos dela, e ligou o aparelho. A fita, que já estava embutida, começou a tocar. Era a voz da sua filha sim, mas não dava para entender muita coisa, pois até parecia estar falando uma linguagem estranha!

-Mary, não estou entendendo. Qual é o truque? Tá parecendo só uma gravação boba. - ele perdeu a paciência, apertando o stop.

-Ah, pai! Bem que a Joyce me avisou que os adultos não entendem! Quer deixar a fita tocar?

Mary nunca tinha se irritado e nem desafiado James antes. Ele estranhou a maneira agressiva que ela disse aquilo, mas deixou novamente a fita tocar. Parou antes do final:

-Ok, filha. Papai não entende mesmo. Quer me explicar? Hoje o dia não foi bom, estou com pouca paciência para brincadeiras...

Mary apertou duas teclas, e o gravador tocou ao contrário a fita. Precisou de um tempo, mas James se acostumou, e ouviu que era mesmo sua filha, apesar da impressão de ter outras vozes ali, dizendo que o amava, e que o queria em casa todo dia, e que queria sorvete!

-Como você fez isso? - ele perguntou, espantado, olhando para o pote de sorvete que comprou e deixou em cima da mesa. Por um segundo lhe ocorreu que ele NUNCA antes tinha comprado sorvete para sua filha.

-É um truque papai, já lhe disse isso. - e emendou um "prestenção!", que era uma expressão que James usava rindo, quando a filha aprontava algo, ou derrubava alguma coisa, por exemplo.

-Não quero mais que faça isso. E vou dizer para a Joyce que ela não deve te ensinar essas coisas! - com o grito dele, Mary levantou-se chorando e saiu correndo. Correu para os braços da babá.

-Ótimo, assim pego vocês duas juntas. - ele apareceu na porta, nervoso - Eu não quero minha filha gravando coisas ao contrário, está ouvindo Joyce? Você deveria tomar cuidado com o que anda ensinando para ela!

-Está estressado com a morte da sua (ela pareceu escolher a palavra) amiga! Não desconte em mim e muito menos na sua filha. Serei cuidadosa com as coisas que ensino à Mary, mas...

-Quem é você pra falar assim, ou julgar minhas atitudes, ou interferir na educação de Mary? Acha que estou descontando algo nela? O quê, por exemplo?

-Eu não sou ninguém... - a babá resmungou, sombria, e James olhou estranho para ela pela terceira vez.

O telefone tocou, interrompendo a briga:

-Alô, James? Cara, o marido da Christina se suicidou na cela da delegacia! Você foi o último que falou com ele, e aí? Descobriu alguma coisa?

-Mas eu o deixei bem, e ele dizia estar arrependido do que fez, e que nem se lembrava do motivo! Como pode ter se matado?

-Se enforcou com o lençol. Que coisa estranha, não? Você vem trabalhar amanhã?

-Sim, logo cedo estarei na empresa...


Anoiteceu. Após o jantar, James ainda estava pensativo, achando bom que seu segredo nunca seria descoberto. Só sentia falta de Christina, que além da competência nos negócios era uma mulher e tanto na cama.

Insônia. Então algo o fez levantar-se, para novamente espiar a linda babá que dormia nua todas as noites. Era óbvio que se tratava de uma provocação! Quando chegou ao quarto, as três bonequinhas estavam com os olhos fechados. Joyce dormia de lado, e nesse momento percebeu como era grande o quadril dela. Ficou apenas observando por um longo momento, mas acabou cedendo. Entrou e ficou ao lado da cama. Estava tão excitado que nem se lembrava do dia difícil que tinha passado, apenas se concentrava naquela delícia deitada, sem pudor algum, totalmente pelada.

Abaixou-se e olhou bem de perto para os grandes lábios vaginais que, de tão grossos, apareciam mesmo por entre as coxas encostadas. Teve vontade de lambê-la, e não se fez de rogado. Primeiro, até com medo, apenas encostou a pontinha da língua. O gosto do suor dela era delicioso, e então lambeu uma, duas vezes.

O gemido que ela soltou o empolgou mais. Começou a chupar voraz, como um gato faminto que bebe as últimas gotas de leite. Em segundos, ela voluntariamente levantou uma perna, e James pode lamber tudo o que sempre quis. Segurava firme o bumbum dela, e enfiava a língua com força lá dentro, até onde podia alcançar. Deu atenção especial ao clitóris, o maior que ele já tinha mordiscado em sua vida, e que agora estava muito duro.

-Enfim você veio. Não imagina o quanto preciso de você, James. - ela gemeu baixinho, um quase sussurro, que o excitou mais ainda. E para provar o que dizia, Joyce alcançou o short dele e sacou o pau, abocanhando. Começou uma caprichada chupeta, com uma sede tão incrível que o homem nem percebeu que as bonequinhas agora estavam todas de olhinhos bem abertos!

-Nossa, essa safadeza toda não combina com sua cara de boa menina...

-Não sou exatamente uma boa menina. Agora me dê o que andei esperando, vai.

O jeito como ela disse aquilo, mesmo que estivesse tão excitada, pareceu meio que forçado, ensaiado. Mas ela continuou falando, com uma voz mais rouca que o normal:

-Quero esvaziar seu saco. Preciso. Lava meu rosto, molha minha boca!

O jeito que ela segurava suas bolas combinado com os pedidos insistentes, cada vez mais agressivos, fizeram com que James gritasse, gozando como nunca antes em toda sua extensa vida sexual. Nem com Christina - uma mulher bem mais depravada e liberal que sua falecida esposa - ele tivera uma esporrada tão gostosa como aquela.

Não teve muito tempo para se recuperar, quando Joyce recomeçou as chupadas, lambidas e engolidas. Quando sentiu o membro duro crescer novamente dentro de sua boca, ela o montou, cavalgando com fúria. James gozou novamente, intensamente, e então logo após o prazer começou a sentir aquela sensação de impotência. No fundo sabia que não conseguiria uma nova ereção, mesmo com as vigorosas carícias que a babá insistia em fazer.

Desesperado, jogou-a com força na cama e abriu-lhe as pernas, deitando-se entre elas. Sabia que se encaixasse seu membro flácido nas carnes úmidas e quentes de Joyce novamente se excitaria. Lambia furiosamente os pés dela, passando a língua por entre os dedos. A babá não estava gostando, pelo contrário. Apoiou os pés em seu peito, e o empurrou:

-Eu ODEIO homens se deitando por cima de mim. Gosto de cavalgar, James! - ela gemeu raivosa, parecia outra mulher agora.

O homem sentou-se na cama, conformado, impotente. "Não dá mais esta noite, Joyce."

-Nem nessa, nem em mais nenhuma outra, querido. Devia ter escutado quando quis te contar a história das minhas bonecas. - os olhos negros dela ficaram vermelhos.

-O que tem a ver...? - ia começar a perguntar, mas duas asas enormes, negras como as de morcegos, brotaram das costas da até então adorável babá. Eram enormes, membranosas, e faziam um barulho incômodo, como se algum líquido profano escorresse por elas.

-Nem pense em exclamar "Meu Deus". Poucos presenciaram minha transformação, mas seja homem pelo menos nesse instante, seja corajoso. E não se levante dessa cama!

-O que é você? O que quer de mim? - inconscientemente ou não, obedeceu.

-Já me deu o que eu queria. Precisava de seu esperma. O sêmen tinha que ser dado por um homem seduzido. Eu não podia apenas transar com você. Não funcionaria de outra maneira... -  a voz dela já tinha mudado também, agora era uma rouquidão gutural.

-Pra quê, sua maluca? - recuperou o raciocínio e a frieza e só então se lembrou do mais importante - Meu Deus, minha filha! O que você fez com Mary?

-Oras, ela está ali...

James nem tinha visto, na pressa de possuir a babá, mas era verdade. A pequena Mary estava dentro do quarto, sentada no canto mais escuro, de frente para a parede, quietinha. Aquilo o assustou, pois sua filha parecia nem respirar.

-Mary, é o papai! Fale comigo. - ele levantou-se da cama, dando as costas para o demônio que abria e fechava as asas agora, como que se exercitando.

A menina caiu para trás assim que James encostou nela. Pálida, com os olhos vazios, estava morta. Nas mãos, estava NEBIRU, o ursinho que estranhamente não parecia nada inocente agora. Olhou em volta, as bonecas estavam sorrindo. Lembrou-se da madrugada em que ouviu a conversação de crianças e do telefone fora do gancho.

-Mary dormiu todas as noites aqui, nesse quarto, enquanto eu roubava a alma dela. Você se orgulha de ser um pai exemplar, mas estava mais preocupado em me espiar, em me possuir, que nunca se deu ao trabalho de ir até o quarto de sua filha, James.

-Cala a boca, sua maldita! - ele gritou, transtornado. Pegou o ursinho e o atirou com toda a força na parede atrás dela. O bichinho caiu desajeitado no chão, e seu pescoço pareceu se partir.

-Olhe para o que fez.

James olhou para o chão e viu que vertia sangue de NEBIRU. Os olhinhos estavam virados, arregalados, e aquele olhar subitamente pareceu ser o de sua filha!

-Sabe que é verdade, não? Não preciso contar, já percebeu. Mary morava dentro dele. Agora, está morta realmente, para sempre. Você acaba de me fazer perder uma alma infantil, e não imagina o quanto isso é precioso no lugar de onde venho.

-Sua vagabunda maluca! Você matou minha filha! Espere, você também matou...

-O marido de Christina? Errou duas vezes. Eu ainda não matei ninguém. Você matou sua filha, James, no momento em que jogou NEBIRU na parede. São frágeis minhas crianças, sabia? Quanto ao marido traído de sua executiva, quem ordenou o suicídio foi... Mary! Foi ela quem ligou durante a madrugada, e implantou a ideia do assassinato na mente dele, de maneira subliminar. Lembra do sorvete?

-Por isso você ensinou minha filha falar ao contrário! Mas como ele sabia o endereço?

-Ah, James... Você devia ser mais cuidadoso em guardar o endereço do seu "ninho de amor" com Christina.

-Pegou quando limpou minha sala particular sem que eu pedisse. O recibo de aluguel do apartamento estava lá! - disse o homem, completando o quebra-cabeça.

-A mente humana é muito sugestionável, querido. O marido de Christina quando ouviu a criança falando com ele naquela madrugada, não entendeu do que se tratava, mas Mary forneceu o endereço e lhe ordenou diretamente que matasse Christina, a esposa adúltera, e que depois se matasse caso fosse preso. Ainda diria mais coisas, mas você acordou...

James começou a chorar, mas de raiva. Confuso, não sabia se olhava para o corpo da menina caído no canto do quarto, ou para o ursinho do outro lado, sangrando. O demônio na cama, agora com as longas asas abertas, totalmente desenvolvidas, sorriu:

-Quanto ao banho de porra que me deu, era para que eu pudesse retornar ao lar de onde vim. Acredite, é frustrante ter poderes ocultos e não poder utilizá-los até cumprir determinados critérios. Eu me alimento disso, James. De esperma, de sêmen. Sou uma succubus e esta noite você me fortaleceu, me libertou do casulo de carne, a adorável "Joyce".

O homem procurou pelos cantos algo com que pudesse atacar, ou se defender, mas não tinha nada por perto. Estava com medo do que aconteceria agora que sabia toda a verdade. Então notou que as três bonequinhas restantes estavam na janela, pareciam de partida, e tinham saído dos lugares de onde estavam sem que ele visse!

-James, relaxe. Eu não preciso matar você. Conte para todos sua história triste, mas não estranhe se ninguém acreditar. Confesse, chegou a pensar que eram minhas bonecas no telefone naquela madrugada, não? São alminhas inocentes presas, nada mais. Aliás, como você matou Mary...

Doeu no fundo do peito de James ouvir aquilo. Mas ela continuou:

-...preciso agora de outra vítima, uma nova criança, mas para isso preciso conjurar outro demônio, que servirá como receptáculo dessa alma. NEBIRU está morto, você não tem ideia de como me atrasou, James. Sua punição será conviver com a dor da perda de sua filha. Você será um servo do mal na Terra, sabia? Homens como você, atingidos por uma tragédia dessas, geralmente perdem a fé e o respeito pela vida humana. Foi reduzido à nada.

O homem ajoelhou-se diante da succubus, sem forças para reagir. Apenas segurava o choro com soluços fortes, sem saber o que fazer. Ela estava certa.

-Bem, sua utilidade terminou. Não tenho mais nada para fazer aqui. Adeus, senhor. Não nos veremos novamente, não nessa vida. - dizendo isso, o demônio pegou suas três bonecas e levantou vôo pela janela, sumindo na noite. Uma fumaça mal cheirosa escapava do ursinho NEBIRU, e James tentou racionalizar que somente agora aquele objeto voltara a ser um bicho de pelúcia, sem entender completamente o que ele era antes, e como a essência de sua filha tinha ido parar lá dentro. O brilho da loucura passou pelos olhos de James.


-Você é muito qualificada, pelo que vejo em seu currículo. Está contratada. Preciso mesmo de uma babá com suas características. Onde encontrou meu anúncio de emprego, senhorita Sprenger? - perguntou o homem, sem disfarçar a cobiça carnal no olhar.

A adorável moça, agora ruiva, jogou um jornal em cima da mesa. Na primeira página, uma manchete dizendo que "um maluco qualquer" tinha invadido uma grande loja de brinquedos e queimado toda a sessão de bonecas do lugar. Acabou morrendo no meio das chamas.

-Ah, sim... os classificados de empregos, claro. - ele não notou o sorriso irônico de Joyce Sprenger com a manchete - Minha filha está dormindo no quarto lá em cima, vamos subir?

-Sim, vamos. Tenho umas amiguinhas aqui comigo que ela vai adorar conhecer...


Comentários do autor

A título de curiosidade, os nomes das bonequinhas são: Marukka, Zisi, Ninnuam e, claro, Nebiru.

"Baby-sitter" foi publicado originalmente em 23.02.03. Reescrito em 2012 para o relançamento do site.


Espalhe a palavra